Transplante Hepático – Estado Atual

TRANSPLANTE DE FÍGADO NO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 2008

Transplante de Fígado-Estado Atual
Atualmente, com relação ao transplante de fígado, os melhores serviços do mundo relatam sobrevida de mais de 90% em um ano e chegando a 80% em cinco anos.  De fato, o procedimento se tornou vítima do seu próprio sucesso, com o crescimento do número de indicações, mas tem a doação como o principal fator limitante.  Infelizmente, a falta de notificação dos pacientes em morte encefálica e a manutenção inadequada dos potenciais doadores são fatores importantes que impedem a realização de número maior de transplantes.Organizações de Procura de Órgãos (OPO´s) têm sido instituídas, para tentar melhorar a notificação de potenciais doadores. Por outro lado, estratégias para melhor aproveitamento dos recursos disponíveis também têm sido desenvolvidas, e incluem: a utilização de doadores limítrofes, “bipartição” (dividir o fígado e oferecer para dois receptores), transplante “dominó ou seqüencial” e até mesmo utilização de doadores vivos.  O transplante de fígado intervivos merece menção especial pelo fato do Brasil ter sido pioneiro nesta modalidade de transplante. Professor Silvano Raia e a equipe da Universidade de São Paulo (USP) descreveram esta técnica na revista Lancet em 1989 e a principio foi duramente criticada, porém agora é amplamente realizada no mundo.
Possivelmente não seria necessária a realização de transplante intervivos se tivéssemos os níveis de doação e aproveitamento de órgãos de países como a Espanha, que registra 35 doações por milhão de habitantes, enquanto no Brasil conseguimos apenas 6 doações por milhão de habitantes.
Diante da escassez de órgãos, tornaram-se necessários critérios para a alocação dos fígados disponibilizados.  A partir de junho de 2006, numa tentativa de oferecer os enxertos para os que estão mais graves, entrou em vigor o critério de gravidade através  do modelo matemático MELD (Model for End stage Liver Disease).  Este critério introduz medidas objetivas para estabelecer a gravidade do quadro levando em conta níveis séricos de bilirrubina, creatinina e o valor da INR (international normalized ratio).  Além deste critério, algumas situações recebem pontuação maior, por exemplo os portadores de carcinoma hepatocellular.  Apesar de ter sido um avanço na alocação de órgãos, este critério ainda não contempla algumas situações graves em que o escore MELD é baixo, por exemplo pacientes com cirrose hepática e complicações como: encefalopatia crônica, ascite refratária  e hemorragia digestiva alta.

Neste cenário, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP) tem atualmente 104 pacientes na sua lista de espera aguardando o transplante de fígado. Até o final do primeiro semestre do ano de 2008, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) no Brasil havia 6505 pacientes em lista de espera para transplante e foram realizados apenas 533 transplantes.

Figura 1. Distribuição dos pacientes (em porcentagem) transplantados no HCFMRP-USP de acordo com a etiologia da cirrose hepática

Figura 1. Distribuição dos pacientes (em porcentagem) transplantados no HCFMRP-USP de acordo com a etiologia da cirrose hepática

As principais indicações para transplante de fígado estão evidenciadas na figura 1, que mostra a distribuição dos pacientes transplantados no HCFMRP-USP de acordo com a etiologia da cirrose hepática. Vale a pena ressaltar que aproximadamente 70% das indicações são por causas passíveis de prevenção.
Deste modo, sendo o transplante fígado uma modalidade de tratamento para doença hepática terminal com bons resultados, que permitem prolongar a vida e, sobretudo, melhorar a qualidade de vida de adultos e crianças com doença hepática crônica, mas ainda com altas taxas de mortalidade em fila de espera devido à falta de enxertos, torna-se evidente a necessidade de atuar em várias frentes, que inclui aumentar a doação, melhorar a notificação e manutenção dos potenciais doadores e o mais importante que é o controle ou prevenção das principais indicações de transplante (cirrose hepática por hepatite B, hepatite C e álcool).
O programa de Transplante de Fígado do HC-FMRP-USP foi instituído em 2000, sob a coordenação do Prof. Dr. Orlando de Castro e Silva Jr., que, com sua equipe, realizou o primeiro transplante hepático, nesta Instituição, no dia 1 de maio de 2001.  Em 2004, após extensa reestruturação em sua dinâmica, o grupo se consolidou e vem realizando um número crescente de transplantes (fig.2a e 2b).
Figura 2a – Número de transplantes de Fígado, de janeiro de 2009 a dezembro de 2010, no HC-FMRP-USP

Figura 2a – Número de transplantes de Fígado, de janeiro de 2009 a dezembro de 2010, no HC-FMRP-USP

Figura 2b – Número de transplantes de Fígado, por ano no HC-FMRP-USP

Figura 2b – Número de transplantes de Fígado, por ano no HC-FMRP-USP

Transplante Hepático - Estado Atual(Grafico4)

Transplante Hepático - Estado Atual(Grafico5)

Transplante Hepático - Estado Atual(Grafico6)

 

Figura 3A, B, C e D - Níveis de sobrevida do estado de São Paulo, Interior do estado de Sào Paulo, da capital e de Ribeirão Preto

Figura 3A, B, C e D – Níveis de sobrevida do estado de São Paulo, Interior do estado de Sào Paulo, da capital e de Ribeirão Preto

Nossos resultados estão se equiparando aos dos melhores Centros transplantadores do mundo.  No dia 1° de dezembro de 2008, este grupo liderado agora pelos Professores Orlando de Castro e Silva Jr. e Ajith Kumar Sankarankutty realizou o centésimo transplante de fígado da instituição (Figuras 4-8) (incluído entre os cem, cinco transplantes duplos-fígado e rim e um transplante dominó).  Infelizmente, apesar de especial infraestrutura hospitalar montada, com uma Unidade de Transplante de Fígado e uma equipe de aproximadamente 60 pessoas envolvidas diretamente com o transplante, o número de transplantes de fígado realizado nesta Instituição ainda esta muito aquém da sua capacidade, principalmente devido à escassez de enxertos observada em nosso meio.

Fig. 4 - Parte da equipe de Transplante de Fígado do HC-FMRP-USP

Fig. 4 – Parte da equipe de Transplante de Fígado do HC-FMRP-USP

Fig. 5 - Equipe Cirúrgica que participou do 100º Transplante de Fígado

Fig. 5 – Equipe Cirúrgica que participou do 100º Transplante de Fígado

Fig. 6 - Professor Orlando e as enfermeiras coordenadoras do Grupo de Transplante de Fígado: Luciana à direita e Ana Rafaela à esquerda

Fig. 6 – Professor Orlando e as enfermeiras coordenadoras do Grupo de Transplante de Fígado: Luciana à direita e Ana Rafaela à esquerda

Fig. 7 - Grupo de Transplante de Fígado

Fig. 7 – Grupo de Transplante de Fígado

Fig. 8 - Médicas Clínicas do Transplante de Fígado: Andreza, Adriana e Fernanda

Fig. 8 – Médicas Clínicas do Transplante de Fígado: Andreza, Adriana e Fernanda